Chaplin e os indignos de vida



Convidada a participar de uma Mesa de discussão sobre a vida e a obra de Charles Chaplin no SESC Piracicaba em 16 de junho, tive a oportunidade de pesquisar um pouco mais sobre este magnífico artista. Foi um bate-papo muito interessante com Everton Luis Sanches, professor doutor e especialista em Charles Chaplin, e com Alexandre Bragion, professor e mestre em música e literatura.

Questões acerca da história de vida de Chaplin, seus desafios e relacionamentos foram abordados. O que ele tem a nos dizer ainda hoje? Sua obra é contemporânea, embora já registre cerca de cem anos?  

Chaplin foi um criador ímpar e multifacetado, um artista considerado gênio por muitos estudiosos. Sua história de vida, cuja infância foi pobre e miserável na Inglaterra do início do século XX, inspira pessoas em todo o mundo. Mas sua criação mais relevante, sem dúvida alguma foi o personagem Carlitos, o Adorável Vagabundo.

Quem ainda não assistiu os filmes de Charles Chaplin precisa acessar no Youtube, por exemplo, O Garoto, Luzes da Cidade, Vida de Cachorro, Tempos Modernos e O Grande Ditador (disponíveis como domínio público), só para citar alguns. Em todos esses filmes, com exceção do último em certos aspectos, o Adorável Vagabundo está presente, com aquela ternura e compaixão impossível de descrever, aquele olhar que questiona qualquer acusação. Um pobre cidadão humilde que vive na rua, que não tem o que comer e o que vestir, que ajuda qualquer pessoa sem distinção de classe e se apaixona frequentemente, trapaceando as vezes para sobreviver. 


Como poucos na humanidade, Chaplin denunciou a pobreza e a desigualdade, dignificando Carlitos. Naqueles tempos sombrios de guerras e revoluções, de fascismo, nazismo, extermínio e perseguições - que parecem estar se repetindo em pleno século XXI -, o Adorável Vagabundo representava as "populações sacrificadas" descritas por Judith Butler em Quadros de Guerra - quando a vida é passível de luto. E ainda representa!

Afinal, enquanto sujeitos éticos que deveríamos ser, compartilhando o mesmo planeta, poderíamos nos perguntar: quem são os Carlitos dos nossos tempos, os indignos de vida, os "menos humanos"? 
Chaplin cometeu muitos erros, como as pessoas costumam cometer em suas breves vidas, mas ofereceu ao mundo sua própria humanidade, sua capacidade de sentir comoção pelos invisíveis e abandonados da sociedade.

Comentários

  1. Afinal, enquanto sujeitos éticos que deveríamos ser, compartilhando o mesmo planeta, poderíamos nos perguntar: quem são os Carlitos dos nossos tempos, os indignos de vida, os "menos humanos"? ...

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