A insanidade e incivilidade do ódio
Posso estar enganada, mas tenho percebido que todas as
pessoas que têm o mínimo de bom senso estão assustadas com o nível de ódio que
os brasileiros estão demonstrando nas redes sociais e no trato cotidiano com
seus pares, especialmente se estes forem diferentes do esperado. Caso o parente
tenha votado em um candidato que não é o escolhido pela família, caso o colega
de trabalho pense de maneira distinta dos outros ou seja nordestino,
encontra-se em posição de vulnerabilidade a insultos de toda a ordem. Ou seja,
apenas por não se encaixar em um determinado padrão de pensamento ou de origem
étnico geográfica, digamos assim, uma pessoa pode ser ofendida e literalmente
xingada nas timelines da internet ou no supermercado da esquina.
Por esse motivo, eu, que há dois anos participava do
facebook, já não participo mais (a não ser pela Clínica Recriando Vínculos
Psicoterapia). Ouço relatos sobre as outras redes sociais, que parecem estar ainda
mais odiosas, contaminadas por discursos racistas e xenófobos proferidos pelos
pseudo jornalistas de plantão, que lucram com a guerra diária de um povo como o
nosso. Entendo que, neste momento histórico tão delicado, a mídia é, de fato, a
grande responsável por produzir estas situações de incivilidade social.
Não quero dizer que o ódio seja inumano, que as revistas e os
jornais do país estejam fabricando os sentimentos das pessoas. Não se trata disso. Nós, seres humanos, somos
excelências em odiar. É do ódio que criamos guerras, que matamos uns aos
outros, que nos violentamos todos os dias, que aprisionamos os animais, que
desprezamos os mais fracos.
Sabemos que o ódio faz parte do espectro de emoções de toda
pessoa, assim como o amor. Uma mãe pode odiar seu filho, um aluno sua
professora e vice versa. Os casais muitas vezes vivem uma relação de ódio, mais
do que de ternura, e a tragédia se anuncia quando o tal ódio torna-se a tônica
de um casamento ou a inspiração para as atitudes de uma nação. Exemplos não
faltam, creio não ser necessário citar a primeira e a segunda guerra mundiais,
frutos de disputas territoriais e da xenofobia em relação ao povo judeu e a
muitos outros povos. Infelizmente, o ódio é uma das marcas da nossa humanidade,
desde seus primórdios.
Acreditávamos que, na medida em que nos tornássemos seres
civilizados, poderíamos aprender a lidar melhor com o ódio, de modo a nos
destruirmos menos. Não foi o que se viu no século XX, não é isso que estamos
vendo agora.
Com grande contribuição de uma boa parcela da mídia, que
estimula o ódio nos cidadãos, estamos adoecendo. Porque para mim, sinceramente,
a intensidade deste ódio já está no limite da sanidade possível de um ser
humano. Em algum momento dos últimos dias, lendo frases e comentários absurdos
na internet, imaginei que estamos todos fazendo parte de um enorme sanatório,
povoado de loucos que ficam gritando, sem conseguir qualquer comunicação um com
o outro. Por isso acho necessário parar e refletir, olhar “de fora” as
situações nas quais as pessoas (ou nós mesmos) gritam, xingam e brigam. Tenho
certeza que, se fizermos isso, sentiremos vergonha, posto que já tivemos alguma
experiência de civilidade, de convivência e educação decentes. Além disso,
nunca é demais retomar a leitura dos filósofos que nos ajudam a pensar a modernidade, como
Walter Benjamin, Hannah Arendt e Michel Foucault.
Parabéns!! Reconfortante ler o seu texto nesses dias insanos... abraço!!
ResponderExcluirMuito bom, Andrea
ResponderExcluirParabéns, conseguiu expressar muito bem.
Muito bom Andrea. Retratou o que vivemos nesses dias de eleições. Estamos muito longe, digamos, somos primitivos em termos de civilidade. Parabéns.
ResponderExcluirQuerida amiga
ResponderExcluirPenso que vivemos
em uma sociedade doente.
Doente da falta de amor...
Doente da falta de afeto...
Então a maldade
toma de conta,
e as cores da violência,
se fazem plenas,
do jogo de futebol
as pregações religiosas,
das salas de aula
as mídias sociais...
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Fotografe a alegria e a revele
na máquina digital do seu coração...