Em busca de nós mesmos: olhando para o passado
Esta belíssima declamação poética
de vida foi escrita por Raul Pompéia, no século XIX, em seu famoso livro O
Ateneu. Para quem não conhece a obra, Ateneu é o nome do Colégio interno,
glorioso e magnífico, no qual a elite matriculava seus “varões”.
O livro é um mergulho no tempo,
pois é narrado pelo próprio personagem principal, Sérgio, contando sua vida de
menino dentro do Colégio. Sãos os olhos de Sérgio adulto, acompanhando e
resgatando o passado, que constituem o romance, com suas peripécias,
sofrimentos e magias.
Enquanto leitores, somos
convidados a partilhar com ele o universo deste Colégio austero, rígido, quase
militar, comandado por um insano diretor, Aristarco, megalomaníaco ultra
conservador. As relações entre professores e alunos são absolutamente
verticais, autoritárias, promovendo o medo e a repressão que herdamos no século
XX.
Trata-se de uma obra de arte tão
magnífica que poderia suscitar diversas reflexões, inclusive sobre o modelo
educacional no qual até hoje estamos inseridos. Mas o que eu gostaria de frisar
aqui é a possibilidade de todos nós olharmos para o passado, exercício que o
próprio Raul Pompéia realizou através deste livro, considerado auto biográfico.
A nossa história também é
constituída pelo “tempo do pretérito”, acontecimentos, situações e emoções que
ocorreram em nossas vidas e que, de algum modo, foram importantes. Nem sempre
temos consciência dessa importância, as vezes nem nos lembramos dos fatos. Por
isso, é frequente sofrermos sem saber exatamente o motivo: percebemos que algo
do momento presente nos incomoda, mas não justifica tanto sofrimento. Falta-nos,
portanto, compreender que o presente carrega consigo o passado e que o passado,
enfim, está vivo e nem sempre passou dentro de nós...
Ressignificar o próprio passado e
buscar novos sentidos para nossa biografia é um exercício que pode resultar em
maior autonomia, responsabilidade e amor pela vida. Em alguns casos, pode até
ser redentor, salvando-nos da morte. A arte em geral, a literatura, a escrita,
o teatro e a psicoterapia são caminhos possíveis a nos guiar por essa trilha em
direção a nós mesmos.
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