Os livros e a vida: um relato
Não é por acaso que os estudantes
que estão se destacando no ENEM são ávidos leitores, apaixonados por livros e
escritores. Para pensar sobre si mesmo, sobre as relações humanas e sobre o
mundo ao redor é preciso ler livros, não apenas ler textos na internet. Somente
eles nos possibilitam uma profundidade de reflexão, permitindo que façamos
articulações entre diversas questões da vida.
As obras de grandes escritores da
literatura, por exemplo, além de nos propiciar o conhecimento e o prazer de
descobrir certa linguagem, constituem também documentos históricos de uma
determinada época. Podemos imaginar como foi o século XIX na Europa,
principalmente no que diz respeito ao relacionamento entre homens e mulheres, lendo Madame Bovary de Gustave Flaubert, um
romance arrebatador. Ou podemos estudar como foi o suicídio de Getúlio Vargas através de Agosto, romance policial de Rubem
Fonseca.
Na minha história de vida, graças ao meu pai,
os livros sempre estiveram presentes. Creio que aprendi a amá-los pelo
incentivo dele. Nos anos 70, quando eu era criança, não me lembro de ir a
livrarias, pois as coleções de autores clássicos da literatura nacional eram compradas
através de representantes comerciais, pelo menos na cidade onde eu morava,
interior de SP. Recordo-me com prazer das grandes caixas que chegavam em casa,
contendo a obra inteira de Monteiro Lobato, Machado de Assis, José de Alencar,
Jorge Amado e outros. Meu pai gostava muito de adquiri-los e colocá-los na
prateleira, mas não sei se gostava tanto assim de lê-los. Ele não era um leitor
inquieto nem um intelectual aflito, mas foi o que eu acabei me tornando, de
certo modo. Talvez esse fosse o desejo dele, que uma das filhas gostasse muito
de ler e estudar.
Os primeiros livros que me marcaram
foram as obras infantis de Monteiro Lobato, O Sítio do Picapau Amarelo. Elas
também estavam na televisão e eu amava assisti-las. Mais tarde, quando fiquei adolescente,
nunca me esqueci do pavor de ler Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada
Prostituída. Fiquei apavorada, mas depois apaixonei-me por Lucíola, de José de
Alencar, um romance trágico solicitado pela escola. Se não me engano a paixão
era o tema daquele momento e eu estava apaixonada por um garoto!
Não é preciso dizer que os livros sempre me salvaram, no sentido de terem me ajudado a lidar com problemas afetivos. Clarice Lispector foi quem me despertou sentimentos desconhecidos e significativos em sua magnífica obra Perto do Coração Selvagem. “Não se preocupe em entender,
viver ultrapassa qualquer entendimento”, frase inesquecível desta mulher
encantadora e enigmática.
Em algum dia que suponho ter sido especial, cheguei a Herman Hesse. Seus livros eram uma viagem indescritível para
mim, beirando a loucura. Demian, Sidarta, O Lobo da Estepe narram um mundo
onírico que em geral vivemos somente no sono, mas com Hesse podemos
experimentar esse universo conscientemente. Depois vieram outros seres
maravilhosos para enriquecer minha imaginação e contribuir com o meu
crescimento pessoal, como Nelson Rodrigues, José Saramago, Albert Camus e Josef
Kafka. Com Nelson compreendemos a instituição familiar em suas entranhas mais
dolorosas e com Kafka descobrimos a nós mesmos nessa modernidade cruel e controladora. O Processo e A Metamorfose são obras emblemáticas da nossa época.
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Todo este relato tem o objetivo
de compartilhar o prazer e a felicidade da leitura, não de ostentá-la. A
delicadeza, o amor, a doçura e a solidão que as vezes nos fazem falta estão nos
livros. Quem sabe com eles possamos aprender não somente a ser mais crítico e
inteligente, mas também mais tolerante, mais amoroso e apaixonado pela vida.
Querida amiga
ResponderExcluirUma preciosa reflexão.
Rubem Alves e Gibran,
me influenciaram muito.
Sempre que os leio,
ressuscito...
Que ainda haja estrelas em seu coração,
é o que deseja minha vida para a tua.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQuerida Andrea um dos trabalhos do mestrado foi da importância dos livros e de como que ajudaram nos momentos mais difíceis do meu tratamento que já dura a minha vida inteira... Lobato, Machado, Barreto, Vinicius, Clarice, Manoel, Florbela, Francisca, Gilka. Fernando, Kafka, Tolstoi, Joyce, Neruda, Cora, Cecília e infindáveis números de valorosos escritores estiveram junto ao meu peito (literalmente) nas minhas indas e vindas aos hospitais... ainda acredito li tão pouco... quero mais tempo para ficar junto deles e sugar suas palavras...CaipiracicabANA Marly de Oliveira Jacobino
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