Aprendendo com o cinema: notas sobre um filme
O cinema pode proporcionar uma
experiência terapêutica? Ou educativa? Alguns estudiosos afirmam que sim. Não é
difícil, ao menos, argumentar que certos filmes nos possibilitam reflexões.
A trama amorosa vivida por um
casal, no filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, revela conflitos e
sentimentos que apontam para nossos próprios relacionamentos, de uma maneira poética.
Uma garota solar, que se veste de laranja, impulsiva e ansiosa, em contraste
com o namorado lunar, sempre de azul escuro, um tanto quanto melancólico e
deprimido.
Algo a comentar? Nossas
diferenças são complementares? Ou seja, alguém mais agitado precisa e se nutre
de um outro mais calmo? Será este um modelo funcional? Para as relações
amorosas, não há respostas definitivas, mas talvez haja especulações
interessantes.
Quando estamos apaixonados, é
fato que não existe qualquer ponto de discórdia ou diferenciação pessoal. Somos
iguais e perfeitos um para o outro. Com o passar do tempo, no entanto, somos
obrigados a encarar as diferenças e, assim, lidar com nossos próprios vazios. A
paixão dá conta do vazio e o preenche, por isso não precisamos de mais nada, a
não ser ver ou falar com nossa paixão.
Naquilo que hoje se denomina "amor
maduro", a paixão ocupa muito menos espaço na medida em que aprendemos a
preencher nossos vazios de outras formas. Precisamos do outro, mas entendemos
quando ele não está disponível. Temos expectativas a seu respeito, mas não
cobramos o tempo todo que elas sejam cumpridas. Somos capazes de compreender as
fragilidades e carências: nossas e do outro, assumindo-as e respeitando-as, sem
depositá-las em “mãos mágicas”.
Algumas cenas do filme são
encantadoras, tanto no sentido do desvelamento das relações entre os casais
quanto na beleza da fotografia e do inusitado roteiro, criado por Charlie Kaufman
como uma história de ficção científica. Valeria a pena apagar inofensivamente a
existência de quem amamos, porém não mais desejamos em nossas vidas? Será que
não corremos o risco de criar ou repetir o mesmo drama com outra pessoa?
Não tentarei especular. Talvez valha a pena que cada um faça a sua própria
investigação, incluindo a arte e o cinema na busca de relações mais saudáveis.
Pois é.mesmo tentando apagar o outro fica uma ponta de desejo de tê-lo ao menos na lembrança... uma relação não pode se escair desta maneira. Gostei do filme e das suas conjecturas que li e reli aqui no Recriando Vínculos, Andrea. Valeu a sua pedida para o filme. Ana Marly
ResponderExcluir