Um poema para refletir
Neste poema de Fernando Pessoa, talvez possamos refletir a
possibilidade de viver com mais intensidade nossas tão breves vidas!
Não tenho pressa.
Pressa de quê?
Não têm pressa o sol
e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que
a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um
pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter
pressa.
Se estendo o braço,
chego exactamente aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro
mais longe.
Toco só onde toco,
não aonde penso.
Só me posso sentar
aonde estou.
E isto faz rir como
todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a
valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da
nossa realidade.
E estamos sempre fora
dela porque estamos aqui.
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" -
Heterônimo de Fernando Pessoa
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