Indicação de leitura: Tudo o que nunca contei


Este é um livro que eu daria de presente a todas as mães e a todos os pais, se pudesse. Como isso não é possível, faço aqui a indicação de leitura, registrando algumas palavras sobre esta bela e instigante obra. 

Escrito por Celeste NG, americana filha de imigrantes chineses, narra a história também de uma família de imigrantes chineses nos EUA dos anos 70. O texto é acessível e empolgante, pois cada capítulo incita o desejo de saber mais.

A protagonista da tragédia familiar é uma adolescente de 16 anos, cuja morte é anunciada nas primeiras linhas do livro. A partir de sua morte é que a história se desenvolve, para o passado, o presente e o futuro. 
Como ela morreu? Teria se matado ou não? Quais os motivos do suposto suicídio?
Quem são seus pais, seus irmãos e seus avôs? De onde vieram? O que conquistaram e o que perderam?

A obra é uma profunda investigação sobre as relações familiares e a influência da cultura nos processos de subjetivação individual, abordando questões relacionadas à classe social, ao casamento entre etnias diferentes, ao papel da mulher na sociedade dos anos 50 e 60 e ao impacto de expectativas inter-geracionais.  

Como se sente uma menina que carrega em suas entranhas o desejo irrealizado de sua mãe, vivendo por ele a ponto de não ter existência própria? Como se sente um menino humilhado por ser asiático numa escola que só tem brancos? Por que ninguém conversa abertamente nesta família, por que não há diálogo franco e redentor? 

Lydia é a filha escolhida de ambos os pais, que desdenham os outros filhos para ampará-la incessantemente. Um projeto de vida foi criado em seu nome, com o objetivo inconsciente de consolar as frustrações, dores e sofrimentos do casal. Um projeto, no entanto, que não inclui a pessoa de Lydia, seus desejos irreconhecíveis e seu self desprezado. Lydia não sabe quem é, ninguém sabe; todos vivem muito, muito sozinhos na mesma casa, perto de um lago situado em um bairro no qual residem famílias tradicionais irretocáveis, supostamente felizes. Felizes? Nem tanto assim.

O drama dos Lee é revelador da sociedade ocidentalizada que hoje vivemos, pautada no narcisismo, na hiper competição, na desigualdade, no consumo e sucesso egoico a todo custo, na superficialidade das relações e na mais absoluta pobreza afetiva. Tal sociedade, infelizmente, tem levado muitos jovens à morte e muitas famílias ao desespero, basta consultar as estatísticas.

"Quando o corpo de Lydia é encontrado no fundo de um lago, o delicado equilíbrio que parecia manter a família unida se acaba, mergulhando todos no caos."

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