Gênero e Sexualidade: um diálogo necessário



Está ocorrendo uma enorme confusão e desinformação a respeito de gênero e sexualidade em nosso país. Setores representativos da sociedade, há algum tempo, estão propagando inverdades sobre essa temática tão importante para a vida de nossas crianças e adolescentes. 

A principal teoria sobre sexualidade infantil foi criada por Freud, há mais de um século, causando certos escândalos que julgávamos ter superado. Freud compreendeu que as crianças também possuem fontes de prazer erótico, por determinação biológica, sendo que a primeira delas é a cavidade bucal, através da qual o bebê experimenta o mundo, suga e se alimenta. Não se assemelha ao erotismo adulto, ao mesmo tempo em que é uma forma de libido.

Ao longo do século XX, muitos outros autores e pesquisadores discutiram o desenvolvimento genético/psíquico do ser humano, produzindo o que até hoje tem sido considerado como conhecimento científico na área. Este conhecimento fundamentado e acumulado ao longo de eras não pode simplesmente ser aniquilado em nome de uma pseudo-ciência, uma religião ou uma política ultra conservadora, que alimenta a ignorância, o fanatismo e o sofrimento mental.

Para nós, psicólogos sérios e educadores dedicados ao conhecimento, é ultrajante a difusão desta tal "ideologia de gênero", porque parte de razões absolutamente não científicas, carecendo de qualquer comprovação no campo das ciências. Uma das falácias dos pregadores supõe que não se deve conversar com uma criança sobre sexualidade e diferenças de gênero, pois esse diálogo a induziria tornar-se o que não é, quer dizer, poderia transformá-la em homossexual ou transgênero. 

Como seria possível mudar a orientação sexual de alguém, tendo em vista que a construção da identidade e da sexualidade ocorre em fases precoces da infância, de maneira inconsciente? É em estado de choque que temos acompanhado um nível de obscurantismo nunca antes previsto. Obviamente que há formas adequadas para abordar determinadas temáticas com crianças e adolescentes, estabelecendo limites e recursos apropriados, tanto na família quanto na escola. 

Interessante observar que os jovens, em tenra idade, já têm acesso a internet e outros dispositivos tecnológicos contendo mensagens que abarcam o corpo e a sexualidade, muitas vezes de forma inadequada, provocativa e erotizada em demasia. Até para que tenham condições emocionais e intelectuais de lidar com essas mensagens, faz-se necessário propiciar e garantir a eles informação e conhecimento, educando-os, não aprisionando-os, reprimindo-os ou perseguindo professores.

Diversas pesquisas revelam justamente o contrário do que está se tentando impor: quando os jovens têm mais informação, iniciam a vida sexual mais tarde e se previnem melhor; quando uma criança conhece o seu próprio corpo, tem menos chance de sofrer abusos e violências. Ademais, imprescindível lembrar que cerca de metade dos abusos infantis ocorrem dentro da própria família, portanto não há justificativa para restringir a educação da sexualidade ao universo familiar. Pode-se afirmar ainda, lamentavelmente, que em algumas situações um professor significa a única opção saudável para a vida de uma criança.

Portanto, caríssimos leitores, cultivemos a sabedoria, o conhecimento, o diálogo e o bom senso. Não nos deixemos seduzir pelo culto à ignorância que reina em nossos dias.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme A Onda: Democracia x Autocracia

Experimento de Milgram, banalidade do mal e consciência

O Desafio da Convivência Familiar

Natal: a infância como um outro