Barbárie e civilização: quem somos nós?
Nesta semana eu morri um pouco...
Não, eu não morri porque a cada dia que passa fico mais
velha e próxima da morte, naturalmente.
Eu não morri porque estou vivendo intensamente todos os
instantes,
Não é este o meu morrer.
Nesta semana eu estou morrendo um pouco a cada minuto...
Morro de tristeza ao ver tanta gente insana, pessoas
queridas e amadas, tomadas pelo mais sórdido dos afetos: o ódio.
Morro de desesperança ao constatar que a mais bárbara das
ideologias se apodera de tantos corpos e mentes: o fascismo.
Morro de desalento ao perceber que seres humanos frágeis e
ressentidos são manipulados por líderes incautos, despossuídos de sabedoria e
armados pelo totalitarismo.
Quem sobreviverá?
A crueldade é uma marca histórica da humanidade, basta
consultar os livros e olhar para as ruínas que habitam nossa alma.
Mas eu morro porque insisto em alguma fé,
Uma certa ternura diante da precariedade do outro,
Da diferença que exclui e violenta.
Muitos clamam pela morte dos semelhantes, daqueles de quem
nada se sabe.
Muitos clamam pela tortura dos “indignos”, pelo extermínio
de povos e pelo fim da civilização.
Quem somos nós neste imenso planeta Terra para advogar por
causas tão deploráveis, a destruir qualquer possibilidade de paz e libertação?
Quem somos nós para pretender que a extinção de um suposto
outro, diverso, se transforme em uma nova lei ordenando ações e execuções?
Seríamos seres abjetos e egoístas, tanto quanto julgamos que
sejam nossos dessemelhantes?
Quem somos nós?
Não sei como terminar esse poema desabafo.
Mesmo sentindo o ocaso, um desespero tão dolorido e
impotente, a vida revela-se.
Há crianças nascendo, há flores inaugurando jardins impensados.
Quem sabe seja apenas uma longa tempestade passageira esse
fascismo insurgente,
Essa cólera indomada de pessoas inconsequentes e
alteradas.
Quem sabe seja um sonho esquisito esse anúncio da distopia, presente
em tantos livros, filmes e séries.
Quem sabe... eu não sei.
Como tantas mulheres, crianças e jovens, eu temo e resisto.
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