Vamos falar de depressão?


Um dos temas mais importantes a serem discutidos, no campo da saúde mental, é o aumento do número de casos de depressão em todo o mundo. Segundo dados da Ooganização Mundial da Saúde (OMS 2017), a depressão é a segunda principal causa de morte entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos e a cada 40 segundos alguém se suicida.


Do ponto de vista médico, a depressão está relacionada à falta de serotonina no cérebro e caracteriza-se como um problema fundamentalmente neuroquímico. Por isso necessita ser tratada com medicamentos que aumentem a serotonina (anti depressivos), especialmente nos casos graves. O psiquiatra é o médico responsável pela realização de um diagnóstico preciso e pela medicalização.

Na perspectiva psicossociológica, no entanto, a depressão é muito mais do que um conjunto de sintomas que pode comprometer a vida de uma pessoa, afastando-a das atividades cotidianas (tristeza, irritabilidade, raiva, baixa estima, sentimento de fracasso, culpa e impotência, falta de ânimo e de vitalidade, desesperança, apatia, ideações suicidas). O sofrimento intenso do quadro depressivo relaciona-se tanto com a história de vida do sujeito quanto com as condições em que o mundo se encontra neste exato momento.

Uma sociedade que estimula demasiadamenta competição, o egoísmo, o narcisismo, o individualismo e o ódio, ao mesmo tempo em que exerce níveis de exigência e excitação para além do suportável, só pode ser uma sociedade doente, produtora de seres humanos descontentes, esvaziados, vivendo em estados depressivos, maníacos ou mesmo psicóticos.

Não podemos esquecer que nossa subjetividade e nossas doenças mentais são sintomas do nosso tempo, esta era capitalista consumista que, a bem da verdade, nos esvazia, posto que nos constrói como seres desejantes impossibilitados de obter satisfação permanente. Não é difícil acompanhar pessoas que possuem muito materialmente, intelectualmente ou esteticamente, mas são infelizes e deprimidas porque há uma enorme pobreza afetiva/relacional.

Nós precisamos e nos nutrimos emocionalmente uns dos outros, a partir de trocas afetivas autênticas e singelas. A solidão, o isolamento e a economia excessiva de afetos possibilitam relações de pouca intimidade, que em geral não agregam sentidos para uma existência plena. Muitos adolescentes, por exemplo, compreendem ser melhor não sair do próprio quarto, conectando-se a internet permanentemente e perdendo o contato com pessoas reais. Quando enfim são obrigados a lidar com as dificuldades impostas pela vida, revelam-se frágeis e intolerantes à frustrações.

As crianças também sofrem, vitimadas por quadros de fobia ou depressão devido a exigências e cobranças por desempenhos espetaculares, principalmente na escola, cenário este que impede o desenvolvimento saudável, repleto de jogos e experimentações. 

Para maior conhecimento sobre o assunto, deixo aqui o registro de duas leituras interessantes:

O Tempo e o Cão - a atualidade das depressões
Livro da psicanalista Maria Rita Kehl




O Demônio do Meio Dia - uma anatomia da depressão
Livro autobiográfico de Andrew Solomon


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