Esperança, Vida e Poesia

Vivemos tempos de grande desesperança. 
Confirmando esse sentimento predominante, atestamos diariamente o aumento do número de suicídios em todo o mundo, principalmente entre os jovens e também entre os padres, mais recentemente.
Nossas expectativas em relação ao futuro estão sendo dilapidadas por constantes crises econômicas, políticas e humanitárias. Os valores de suma importância para a civilização, construídos após a Segunda Guerra Mundial, com a criação da ONU, não se mostram efetivos, ou seja, não são colocados em prática. Temos guerras, temos violência e barbárie, temos populações inteiras migrando pelo planeta por falta absoluta de condições de sobrevivência. 

Por mais que tentemos nos proteger de tantos fatos e situações destrutivas a compor os rumos da humanidade, não é possível ficarmos alheios, a não ser que sejamos psicóticos ou narcísicos, a não ser que façamos parte de comunidades delirantes isoladas no próprio sofrimento. 
Nossa subjetividade é uma construção que ocorre no interior das relações que partilhamos, por isso sofremos o impacto daquilo que está ao nosso redor. Ainda que tentemos nos separar e nos distanciar das dores dos outros, ainda que sejamos agressivos, egoístas e violentos, muito pouco empáticos, não somos capazes de viver completamente alienados.

Não, não somos seres assim tão solitários.
A solidão, no entanto, pode ser construtiva, principalmente numa época de hiperestimulação, hipermídia e hiperexcitação. É preciso que nos retiremos parcialmente de toda essa parafernália tecnológica, que nos faz eufóricos e deprimidos ao mesmo tempo. Sim, é preciso que exercitemos em nossas vidas tão precárias algo que seja exclusivamente nosso, que nos identifique como seres diferentes uns dos outros e que nos proporcione um sentido peculiar de existência. 
Algumas pessoas amam dançar, outras não conseguem ficar sem escrever e ler um romance. Algumas pessoas necessitam correr ou andar de bike, outras preferem caminhar por espaços fora da cidade. Há ainda indivíduos que sentem imenso prazer em cozinhar, restaurar móveis antigos, plantar flores ou simplesmente fazer crochê. 
Não importa o que seja, pequenas viagens pelo ano quando possível ou programas de lazer e cultura que acrescentam um sabor à nossa relação com a vida. Tudo isso é de extrema importância em períodos históricos como o nosso, prenhes de tragédias que nos obrigam a lutar cotidianamente pela sobrevivência emocional, por algo que nos faça sentir que a vida vale a pena e não se compõe apenas por vazios.  

Espero sinceramente que esse tempo passe... que o desespero e as lágrimas das quais tenho sido testemunha possam se transformar em poesia, como este livro maravilhosamente belo de Valter Hugo Mãe.
Homens imprudentemente poéticos é uma obra prima para quem aprecia romances com lirismo. Cada palavra e cada frase inspiram imagens que tocam profundamente nossos corações. Romance para degustar, para inspirar, para acreditar na possibilidade que a arte nos oferece, evocando parte da história de Édipo, se quisermos.
Não vou fazer resenha, bastam algumas citações de uma narrativa que acontece no Japão, entre aldeões pobres: "O jardim na floresta era uma renda colorida na franja subindo da montanha." Ou ainda: "No escuro, dera conta que se ocupara apenas de sobreviver, como se a cegueira permitisse nenhum descanso, nenhum prazer além do acosso pela vida." "Os cegos imaterializavam-se. Ficavam extensos." 
E eu, sem dúvida alguma, só tenho a exprimir gratidão e emoção por este autor que me faz sentir viva!

Resultado de imagem para valter hugo mãeMae Homens imprudentemente poéticos

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