O papel da psicoterapia
Francis Bacon: 1909 - 1992
Auto retrato
Muitas são as formas de conceber o
papel da psicoterapia na vida de uma pessoa, um casal ou uma família, sendo que
o sofrimento é a questão principal na condução tanto daquele que busca ajuda
quanto do próprio terapeuta.
Em geral as pessoas procuram
psicoterapia na perspectiva de obter um alívio imediato para a dor, o que só é
possível através de medicamentos, dependendo do quadro clínico. Numa sociedade
pragmática e imediatista como a nossa, não poderíamos esperar outra coisa: um
tratamento psicológico deveria “curar” rapidamente o sujeito que
sofre. Ah, quem me dera ter esse poder!
Apesar da mídia divulgar
cotidianamente feitos maravilhosos no campo da saúde mental, não é esta a
realidade que vivemos. Infelizmente as frases de autoajuda, tão em voga no
momento, não têm a capacidade de produzir um ser humano feliz (“pense
positivamente todos os dias que seus problemas serão resolvidos”, “ame-se mais
do que tudo na vida”, “não ligue para o que os outros pensam de você”, etc);
infelizmente a cultura da máxima performance, que dissemina a ideia de que “nós
podemos superar todos os obstáculos, podemos alçar voos sem limites, tudo
depende apenas de nós mesmos”, só vem promovendo mais sofrimento, na medida em
que desconsidera as relações e culpabiliza o indivíduo, sozinho, pelos erros e
fracassos. Infelizmente, mesmo a indústria farmacêutica, tão empenhada na
pílula da felicidade, por enquanto só consegue fabricar uma espécie de euforia,
um sentimento que vem mas vai embora quase instantaneamente, deixando enormes
vazios.
É fato, portanto, que somos seres
muito mais complexos do que pode parecer em um primeiro olhar, seja este do
senso comum ou da ciência. Não há nenhuma filosofia, psicologia, medicina,
prática ou processo que dê conta em absoluto dos problemas humanos, sejam eles
emocionais, econômicos, políticos ou sociais. A psicoterapia é um dos recursos indicados
para tratar a saúde mental e pode efetivamente contribuir com o crescimento das
pessoas, a médio e longo prazo. Mas não pode salvar ninguém da dor que a vida
traz, não pode se propor a oferecer respostas prontas e rápidas para questões
existenciais, não pode garantir a felicidade nem o sucesso.
Por exemplo, se alguém se condena tristemente por não ter ficado rico, um contraponto importante a ser instigado, cultivando
novos olhares, seria: “por que, pra que e pra quem você teria que ser rico?” Esta
é uma postura crítica e não subserviente, que fortalece o sujeito para pensar
sobre sua própria existência em perspectivas nunca antes pensadas. Pode parecer
pouco, mas com certeza não é.
Muito boa contribuição da colega! Parabéns!
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