O fim da experiência? Ou a criação?
Muitos são os autores e filósofos que discutem ou especulam
sobre o “fim da experiência”. Walter Benjamin (século XX) foi um destes
investigadores do homem na modernidade, discorrendo sobre a importância das
narrativas que nos constituem. Conforme desaparecem os narradores, que são os
contadores das pequenas histórias, pessoais e coletivas, familiares e sociais,
desaparece também a nossa própria história e, com isso, a possibilidade da experiência.
Quando nos esquecemos do passado, demarcados pelo cotidiano massacrante
e caótico em que vivemos, também abortamos nossos laços históricos e nossa
memória, tanto individual quanto grupal. Dessa maneira, mesmo sem perceber, as
possibilidades de atribuir sentidos para nossas vidas diminuem significativamente.
Eric Hobsbawm, no livro a Era dos Extremos – O breve século
XX, escreveu: “A destruição do passado –
ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações
passadas – é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do
século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente
contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que
vivem.”
Infelizmente constatamos essa realidade sem nenhuma
dificuldade. Não apenas os jovens, mas os adultos já não se veem nem se
compreendem como parte do passado e da história. Penso que a urgência imediatista
em viver o futuro, cada segundo que virá, nos condiciona a um terrível vazio no
tempo presente. Somos tomados pela ansiedade de responder a cada clique do
celular, do facebook, do whatsapp. Somos engolidos pela mídia o tempo todo,
aprisionados nesse sistema que nos propõe existir somente através das teclas.
É então que, de repente, sentimos algo estranho pulsar, uma implacável
solidão e as vezes vontade de chorar. Quem será que somos neste momento? Quem é
o outro? Estamos em relação com esse outro ou estamos sozinhos? O que realmente
desejamos para nossas vidas? Se morrermos daqui a um minuto, vamos sentir que
vivemos ou que apenas passamos pela vida sem tocá-la, sem experimentá-la?
Algumas pessoas acham que estas respostas podem ser
encontradas dentro de si mesmas, mas isto é um equívoco propagado pela cultura
individualista e narcisista dos nossos tempos. Para olhar dentro de nós, antes
é necessário que olhemos para o outro. Se isso não ocorrer, ou seja, se não
olharmos para o outro primeiro, quando olharmos para nós mesmos só
encontraremos o vazio, o nada. Somos constituídos pelo outro desde que
nascemos. Senão cuidarem de nós quando bebês, morremos rapidamente. Portanto é
o outro que nos assegura vida e sobrevivência.
Desde os séculos XVII/XVIII, contudo, somos ensinados a não
considerar a existência do outro, o que atualmente, com as novas tecnologias, se
agravou. Diante disso precisamos criar outras formas de relação, ousar encontros
inesperados, exercitar olhares para o diferente; questionar a conduta da alta
performance, que nos ordena a fazer tudo ao mesmo tempo e com a máxima
eficácia, não importando o custo.
Tanto o presente quanto o futuro, embora pareçam definidos,
permanecem abertos. Esta também foi uma reflexão de Walter Benjamin.
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