O Sal da Terra: arte e redenção
Assistir ao filme documentário O Sal
da Terra (2014), dirigido por Win Wenders e Juliano Salgado, é uma daquelas
experiências inesquecíveis para a sensibilidade humana. Dizer que o filme tem
uma belíssima fotografia e aborda a trajetória do artista brasileiro Sebastião
Salgado é muito pouco. Trata-se de um filme sobre
todos nós, enquanto seres humanos capazes de destruição e redenção ao mesmo
tempo.
Se alguém ainda tem dúvidas a respeito do que alguns estudiosos têm chamado de "campos de concentração a céu aberto", pós segunda guerra mundial, basta acompanhar Sebastião Salgado pela Etiópia, na década de 80, ou pelas minas de petróleo na guerra entre Iraque e Kuwait. Embora pareça ficção, as imagens são flashes da realidade que o fotógrafo de fato viveu.
Se alguém ainda tem dúvidas a respeito do que alguns estudiosos têm chamado de "campos de concentração a céu aberto", pós segunda guerra mundial, basta acompanhar Sebastião Salgado pela Etiópia, na década de 80, ou pelas minas de petróleo na guerra entre Iraque e Kuwait. Embora pareça ficção, as imagens são flashes da realidade que o fotógrafo de fato viveu.
Poderíamos acrescentar muitas
outras imagens do século XXI, que configuram a crueldade humana. Mas não me
animo nessa empreitada, posto o cansaço e a saturação desse espetáculo de
horror que vemos todos os dias pelas telas ou ao nosso lado, em nosso próprio
meio ou nossa cidade.
Apesar disso, é importante lembrar que há
uma grande diferença entre O Sal da Terra e a internet ou a televisão. No filme
há humanidade, poesia e verdade; há um narrador protagonista absolutamente
comovido com a miséria humana, tentando documentá-la para que o mundo se
sensibilize e faça algo. “Não é possível que as coisas sejam assim”, pensamos
nós que estamos assistindo. “Como podem tantas pessoas ainda morrerem de fome
no mundo? Para que serve uma guerra, será que é pra exterminar povos, além da
disputa pelo poder?” Ficamos incomodados com nosso próprio conforto diário,
nossa comodidade. Entendemos que o bem-estar conquistado pela modernidade não é
para todos.
Já na mídia espetacular que divulga violência
e guerra há outro interesse: propiciar que naturalizemos os acontecimentos, que
nos tornemos indiferentes. E indiferença é exatamente a única impossibilidade
deste grande filme. Penso eu que nem o mais insensível dos seres humanos possa
sair do cinema sem ser tocado. Se isto ocorrer, desconheço a causa (quem sabe
psicopatia?).
Se a arte tem uma função social e
existencial, podemos afirmar que o documentário e o trabalho de Sebastião
Salgado se realiza dentro desta perspectiva, incluindo ele mesmo como pessoa e
personagem da tragédia humana. Como suportar ver tanta dor, tanta morte
e destruição? É possível não ser aniquilado pela guerra?
Para quem sobrevive, a redenção acena
no horizonte. O artista é sua própria arte e com ela se recria, se refunda, se
concebe em outro ser. Somos então conduzidos, pelo experiente diretor alemão
Win Wenders, às origens do mundo e da história pessoal de Sebastião Salgado.
Não há resgate, aqueles que morreram não voltarão. Mas a Terra e a humanidade,
pelo menos por enquanto, são maiores do que isso e suportam a morte através da
criação. Para mim, mesmo que seja apenas um consolo, este foi o brilho principal do filme, junto às lágrimas
tristes que me convulsionaram os olhos por algum tempo.
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