Das árvores que choram o desespero da humanidade
Ouvimos notícias sobre a
destruição do planeta Terra o tempo todo, pelo menos há cerca de 40 anos. Não
só ouvimos como também somos participantes dessa destruição. Poderíamos ter
aprendido a usar os recursos de nosso habitat de outro modo, mas temos
escolhido a ambição desmedida aliada ao consumo excessivo. As consequências disso
estão em curso, não é preciso muita explicação.
Obviamente que ficar procurando
culpados não é nada produtivo, pelo contrário, tende a aumentar nossa
impotência e gerar um clima de ódio. Discursos que colocam todas as
responsabilidades apenas no indivíduo não são lúcidos, são
empobrecedores na medida em que não consideram a sociedade em suas relações de
poder. Por outro lado, responsabilizar apenas as instituições políticas e governamentais
ou os sistemas privados capitalistas que constituem o tal mercado financeiro,
incluindo a mídia, contribui com um posicionamento de fuga e omissão. Ainda
ouço: “não adianta fazer nada, é perder tempo querer mudar alguma coisa nesse
mundo.” Ou: “aqui em Piracicaba a crise da água não vai chegar porque o
abastecimento não vem do sistema Cantareira.” Estranhas considerações, me
parece.
Felizmente encontrei na internet uma
psicóloga que vem ampliando seu trabalho como cidadã e profissional, articulando
inclusive sua pesquisa em psicanálise com o universo da política. Camila
Pavanelli de Lorenzi produz o Boletim da Falta D’Água em SP - http://boletimdafaltadagua.tumblr.com/
-, tendo sido entrevistada por Eliane Brum, uma das jornalistas mais admiráveis
que acompanho pela rede. Seu texto chama-se Vamos Precisar de Um Balde Maior e foi
publicado no El País: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/02/02/opinion/1422883484_909975.html.
Como provavelmente a maioria das
pessoas, eu também me sinto aflita com diversas questões que compõem o cenário
da vida contemporânea, até porque sei que a árvore que não temos afeta nossas
vidas, a praça que não ocupamos afeta nosso pensamento e o vizinho que não conhecemos
também afeta nossa amorosidade. Sofremos psiquicamente ao sermos afetados por tudo
o que está ao nosso redor, até porque constituímos esses afetos, somos
coparticipantes nesta jornada diária que constrói e destrói a vida ao mesmo
tempo.
Uma das cenas que mais me afetou/abalou
nestes últimos dias, dentre inúmeras tão chocantes, foi a de extermínio e assassinato
das árvores centenárias de Piracicaba. Um projeto de desumanidade tamanha vem
sendo desenvolvido há anos pelos gestores públicos que deveriam ser responsáveis
por preservar o meio ambiente da cidade. Ao invés de cuidar do patrimônio
histórico ambiental que são essas maravilhosas árvores do nosso espaço público,
as autoridades, alegando motivações técnicas totalmente questionáveis, matam
sem piedade. Uma grande parte da população continua a se perguntar, pelo
facebook: por que?
Eduardo Viveiros de Castro, um importante antropólogo brasileiro, junto a outros pesquisadores de comunidades
indígenas, vem afirmando a necessidade de aprendermos com os índios a olhar e
cuidar da vida na Terra. Precisamos entender, individual e coletivamente, que nós
somos os estrangeiros (segundo Camus), não a natureza (embora façamos parte
dela também). Portanto “nós passaremos”, as árvores não, mesmo que sejam
incessantemente assassinadas. O problema é que o fato de matá-las acelera nossa
passagem, por isso imagino poeticamente que elas chorem por nós, por nosso
desespero com a falta de água e de ar saudável, como choraremos pela ausência
delas.
E como somos muitos os indignados
e afetados, deixo registrado um dos links de ativistas incansáveis: https://www.facebook.com/institutoaimara.interessesdifusos.
Há muitos outros, é só começar a procurar e participar!
Triste. Por segundos, me transfigurei em uma árvore e ironicamente, me imaginei comentando: " e ainda dizem que são seres evoluídos..."
ResponderExcluirTristeza profunda...tão profunda.
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