A Felicidade não se engole


A Felicidade não se engole...
Não se engole, não se consome, não se compra? Será mesmo?
Tem certeza que a felicidade não está no seu carro novo, na sua roupa de marca, no antidepressivo que o médico receitou, no açúcar que você tanto adora, no celular do momento, na nota da prova, na viagem do ano? Será mesmo?
Todos dizem que está!

Ah, a felicidade... o que será isso?
É um sentimento, é um “estado de alma”, um elogio a si mesmo, uma euforia partilhada com os outros, ou uma coisa que se possui e se adquire, uma espécie de poder que precisa ser exercitado e exibido?
Sim, como no facebook! Falar com todo mundo o tempo todo, estar conectado, mostrar o quanto "sou lindo e tudo o que conquisto”. Será isso a felicidade? Se estou no facebook estou feliz?

As vezes nem tanto. Além do facebook, para "ficar feliz”, de vez em quando “preciso de uns comprimidos que eliminam aquele vazio, uma coisa estranha, meio deprê, um negócio que acaba com a autoestima, com minha vontade de ficar ligado”. Mas a tecnologia já não “venceu” a angústia humana? Não, sim, será?!

Um surpreendente grupo de adolescentes do ensino fundamental II de Piracicaba (Escola COOPEP), na Mostra Estudantil de Teatro apresentada em novembro/2014, compartilhou com o público esses questionamentos filosóficos existenciais, absolutamente contemporâneos. O próprio nome do grupo já é revelador: O Grito, dirigido por Rodrigo Polla.

Pois bem, O Grito nos coloca frente a frente com a realidade que estamos vivendo, concreta e virtualmente. Através de uma estética muito interessante, com cenas de intensidade dramática que o próprio grupo criou, convoca-nos para uma reflexão pertinente e criativa, muito além daquela que normalmente se espera dos adolescentes de 12 a 14 anos.

Em um mundo onde reinam os clichês, os artifícios rasos de quem não lê quase nada e pensa que sabe alguma coisa; um mundo composto de tecnologias móveis que não auxiliam no desenvolvimento da reflexão mais aprofundada; neste mundo onde é proibido sentir angústia e frustração, encontramos jovens, educadores e escolas empenhadas em transformar a sociedade.

Para dizer o mínimo, emocionante, animador e esperançoso.
Mais do que isso, a peça nos motiva a ler obras de grandes pensadores, como Walter Benjamin, Michel Foucault e Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo), bem como a assistir belíssimos filmes, como por exemplo Gattaca - A Experiência Genética (Andrew Niccol EUA/1997). Que tal?


NOTA: A felicidade, a meu ver, por vezes pode ser apenas isso: arte e reflexão de pessoas tão jovens questionando a vida, porque a vida merece!


Comentários

  1. Adorei!!! Assisti 4 vezes e cada vez me emocionava mais... onde está nossa felicidade, a minha foi ver minha filha com seus amigos tão jovens apresentando um belíssimo espetáculo!!! Parabéns à todos!!

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  2. Andrea, obrigado por contribuir com essa reflexão. A peça do grupo O Grito realmente deixou pasmos os adultos que a assistiram. Tenho a sensação que contribuirá para os atores e público navegarem um pouco mais seguros no redemoinho "infomaníaco" que se tornou nosso modo de vida atual.
    No programa Roda Viva da última segunda, o entrevistado era o diretor Cao Hamburguer do Castelo Rá-tim-bum e a primeira pergunta que lhe fizeram foi sobre a diferença entre a criança hoje e de 20 anos atrás quando lançaram o programa; a resposta, se não me engano, foi a sede de informação que era enorme até os anos 90, e que agora as crianças estão hiper saciadas e o maior desejo é o de se conhecerem melhor.
    Abraço, Girlei Cunha

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  3. Felicidade é algo difícil de se traduzir, principalmente hoje em dia pois as pessoas acabam por encontrar a felicidade em algo, objeto de consumação. Pra mim a felicidade é você se sentir bem consigo sem a necessidade de uma mudança por falta de aceitação, o que é muito raro em nossa sociedade.

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