Sexualidade e adolescência na era virtual: desafios para a educação

São muitas as situações desafiadoras para os educadores, envolvendo a sexualidade dos adolescentes. Em função das múltiplas tecnologias que surgem diariamente, principalmente dos aplicativos móveis, “brincar de sexo” através da rede virtual está se tornando algo comum e frequente.

Se em décadas passadas éramos capazes de controlar o acesso dos nossos filhos ao computador e ao celular, hoje já não somos. Sabemos que não é possível impedi-los de usar a tecnologia, por isso ficamos aflitos e muitas vezes impotentes diante deles. Vamos inclusive percebendo que muito do que aprendemos sobre educação, valores e relacionamentos sexuais está em “desuso”, ou seja, não serve mais, não se adequa à geração net.

Pornografia virtual acessível a crianças, prática de sexo pela rede, vídeos e fotos de corpos nus compartilhados entre os colegas, provocando até suicídio em alguns casos, devido ao ciberbullying, são algumas das cenas com as quais todos nós adultos, em casa e na escola, temos nos deparado. O assunto está em pauta e não há respostas nem receitas sobre o que fazer. É preciso refletir, pesquisar, ouvir e estar aberto. De nada resolverá nosso conservadorismo, nossas ideias preconcebidas ou nossas “lições de moral”.

Uma das primeiras questões a levarmos em consideração é o apelo à exposição do corpo. Vivemos uma era de “culto ao corpo”, somos estimulados o tempo todo a exibi-lo, a mostrá-lo e a nele investir de diversas formas, seja através de atividades físicas, de suplementos ou de cirurgias plásticas. Não há limites, o que importa é a performance do corpo, a beleza que precisa desesperadamente ser adquirida, custe o que custar, segundo os padrões que a mídia impõe.

Como será que esta cultura impacta os adolescentes, que estão experimentando a própria sexualidade, buscando auto afirmação e identidade sexual? Se o mundo nos ensina que para existir temos que exibir nossos corpos, porque recusaríamos, se fôssemos adolescentes no século XXI?

Para nos tornarmos homens ou mulheres interessantes sexualmente, é necessário mostrar a todos nosso “potencial”. As tecnologias nos disponibilizam tal acesso, são abundantes e convidativas. Qual o problema então, se o corpo é consumo, mercado e visibilidade?

Pois bem, os problemas são muitos, mesmo que não sejam tão evidentes. Por exemplo, os adolescentes são obrigados a conviver, ao mesmo tempo, com esse culto ao corpo e sua consequente punição, contraditoriamente. Tanto assim que, quando os colegas de uma garota descobrem que ela envia fotos nuas para alguém, imediatamente se afastam, passam a odiá-la e a difamá-la, embora já possam ter feito algo parecido.

No que diz respeito a afetividade e ao exercício da intimidade, é visível a falta de habilidade para encarar o outro e construir com ele um vínculo de crescimento mútuo. A ênfase no excessivo consumo do corpo e da sexualidade propicia que as relações sejam efêmeras, pouco estáveis e com um nível de comprometimento mínimo.

Essas são apenas algumas das questões que fazem parte deste tema complexo que estamos discutindo. Com muito empenho, precisamos criar alternativas para conhecer e decifrar algo que não nos pertence, visto que nascemos em outro tempo: o finado século XX.

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