Identidade ou identidades?

“Um nome não é mais do que isso: um epitáfio. Convém aos mortos, aos que concluíram. Eu estou vivo e sem conclusão. A vida não tem conclusão – nem consta que saiba de nomes.”

Um Nenhum Cem Mil – Luigi Pirandello


Luigi Pirandello ( 1867-1936 ), escritor italiano, Nobel de Literatura em 1934, foi um autor excepcional, tendo escrito peças, contos, romances, poesias e ensaios. Sua vasta obra propicia inúmeras reflexões absolutamente contemporâneas, sendo que uma delas diz respeito ao conceito de identidade.

Pirandello não era filósofo nem estava interessado em discutir estas questões do ponto de vista acadêmico ou cientifico. Como escritor, no entanto, ele nos apresenta personagens interessantes, em constante conflito consigo mesmo e com a sociedade.

Tanto nos romances Um Nenhum Cem Mil quanto em O Falecido Mattia Pascal, por exemplo, os protagonistas buscam incessantemente novas formas de ser, viver e estar no mundo, colocando-se em confronto com aquilo que os outros esperam deles.

O sofrimento é permanente, já que os seres humanos são seres trágicos: há angústia de todo modo, com a submissão aos valores da sociedade ou, ao contrário, com a revolta. Qualquer posicionamento exige um preço a pagar e é necessário fazer escolhas, que nem sempre são conscientes.

Posso ser uma pessoa para meu filho, posso ser outra pessoa para meu cliente: em mim habitam múltiplos personagens, configurando-se muitas identidades que se expressam ou não, dependendo das relações que participo. Não há uma unidade tão estável assim, como estamos acostumados a pensar, que mantém os indivíduos em um padrão único de comportamento, relacionamento e sentimento.

Pirandello nos convoca, sem querer, a romper com paradigmas da psicologia e de outras ciências. Em pleno século XXI discute-se as diversas identidades sexuais, que podem formar-se e transformar-se de acordo com as experiências. Não somos um, ou somos? Podemos ser vários? E se formos mais de um, como fica o conceito de identidade? Teríamos várias identidades?

Escritores como Pirandello merecem ser lidos eternamente, serão sempre contemporâneos!

Comentários

  1. Pirandello nos coloca na parede com o nosso pretenso equílibrio... identidade... somos multiplos... um, ou ... Ana Marly de Oliveira Jacobino

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