Vestibular: competição e dignidade

Em novembro e dezembro, acompanhamos os adolescentes numa das tarefas mais difíceis da vida: o vestibular. Passaporte para o futuro - ou nem tanto assim, muitos dirão -, é certo que se trata de um momento estressante, por vezes carregado de sofrimento, angústia e decepção. Quanto maior a expectativa, maior a ansiedade.

Apesar das mudanças que vêm sendo feitas nos últimos anos, o vestibular continua a movimentar um mercado considerável da área de educação, predispondo os jovens a uma competição cada vez mais acirrada e terrível. O preço a pagar, por todos aqueles que realmente se dedicam às provas, é altíssimo, principalmente no ingresso às universidades públicas.

As pressões e exigências excessivas afligem a todos, contribuindo com a falta de concentração e os “brancos”, com a insônia, a irritabilidade e o isolamento. É freqüente ser tomado por um enorme sentimento de fracasso, como se algo tivesse errado, por mais qualificado que o estudante seja.

Não será a nossa sociedade competitiva demais, para além dos limites do ser humano, em sua dignidade e saúde mental? Sei que essa é uma pergunta incômoda, talvez ridícula para alguns, visto que o desenvolvimento e a tecnologia com a qual vivemos hoje só foram possíveis graças à competitividade. Porém, arrisco-me a afirmar: a competição também mata, adoece, perturba.

Nunca é demais acolher nossos jovens para dizer-lhes que a culpa não é deles, se realmente acreditamos nisso. Dizer-lhes que também nós erramos muito e que ser reprovado no vestibular faz parte da vida.
Não apenas dizer: é preciso que seja verdade.

Comentários

  1. Pois é, Andrea; o que penso e assino embaixo como fui professora do ensino Médio por muitos anos presenciei toda essa problematização com os meus alunos fututos vestibulandos.

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  2. Infelizmente, os alunos estão saindo das escolas transbordando de conteúdos, mas cada vez menos conhecedores de si mesmos. Infelizmente as crianças estão entrando nas escola já pensando na competição desse bendito vestibular. Jovens, hoje, são meramente um número a mais nas listas das competições. Quem sabe mais passa mais, mas quem passa mais, sabe realmente de si mesmo?
    Competir passou a ser lei, e as escolas que garantem mais competitividade acabam ganhando a parada no mercado educacional. Mercado!

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  3. Muito oportuna a sua reflexão. Concordo e repassarei aos colegas e amigos. Beijos.

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